Quando o senador Cristóvão Buarque propôs que todo político eleito tivesse que colocar os filhos para estudar em escolas públicas ele estava nos fornecendo a mais brilhante iniciativa para moralizar a gestão dos serviços públicos essenciais. Poderíamos avançar e estender essa obrigatoriedade a saúde, transporte e segurança pública. Seria um excelente estímulo para nossos gestores e legisladores olharem com a merecida atenção o planejamento de setores que afetam direta e significativamente a qualidade de vida dos cidadãos. Eu lembrei desse projeto de imediato, assim que li a notícia de que o Sr. Sérgio Cabral se internou para operar uma ruptura no menisco, cirurgia que deve acontecer de imediato.
Fiquei imaginando como seria: assessores ligando para chamar o SAMU/192, que não teria nenhuma ambulância disponível. Então ele seria levado para a UPA mais próxima do Palácio Guanabara. Na triagem aquela dúvida se ele seria atendido ali ou deveria se dirigir a outra. A srª. Adriana Ancelmo e uma dúzia de assessores nesse lindo dia chuvoso e frio, aguardando do lado de fora do prédio. Depois de esperar e passar pelas inúmeras triagens (elas servem para zerar o tempo que o paciente está esperando e começar uma nova contagem), um "ortopedista" solidário diria em seu ouvido baixinho: "Excelência, eu tenho os equipamentos para bater uma chapa, mas não tem ninguém aqui no momento que saiba ler o resultado. Não seria melhor procurar outra unidade?" (Eu não inventei isso, é a realidade).
Ele sai mancando e o grupo decide buscar outro hospital. As opções são poucas já que o atendimento é de emergência: IASERJ, Souza Aguiar e Instituto Nacional de Traumato-Ortopedia. Depois de um tranqüilo passeio de ônibus pela cidade maravilhosa, ele e a esposa completamente descansados e confiantes conseguiriam atendimento em uma das unidades mencionadas (imagino que seria o Souza Aguiar, que nas gestões anteriores, com todos os problemas que acumulava nunca deixou de atender. E tinha ortopedista!).
Depois de um procedimento básico de triagem, a primeira-dama ia perceber que enquanto preenchia a ficha do paciente havia se perdido do seu conjuge. Uma breve maratona perguntando a atendentes pouco humoradas e ela logo descobriria em que corredor ele estava estacionado, aguardando sua vaga de internação. Mas não havia com que se preocupar, a Saúde está cada dia melhor, resultado dos esforços incanssáveis de seu esposo e equipe. No meio da noite um leito vaga e o governador é levado para lá de pronto ( no meio da noite ninguém tem alta, leito vagando só com óbito). Depois de acomodado a primeira-dama é aconselhada a voltar para casa, jantar e descansar. Afinal, o médico deve passar lá pelas 11:30 para dar uma olhada nos casos da enfermaria, e ela deve falar com a assistente social antes da visita para conseguir um cartão que permite acompanhar o paciente. Então, TCHAU!
O resto da história a maioria de nós conhece e talvez já tenha experimentado pelo menos uma vez na vida. Talvez em um mês ele conseguisse fazer os exame e agendar uma vaga no centro cirúrgico, e se nada de errado acontecesse ele seria operado com sucesso (um sucesso devidamente proporcional às condições de trabalho dos cirurgiões).
Parece engraçado? Talvez até é seja, mas só um pouquinho. Tenho uma enorme certeza de que ,se isso acontecesse, todos nós cidadãos fluminenses seríamos beneficiados. Quem sabe sofrendo na pele os efeitos do descaso da gestão dos serviços essenciais, e não tendo como fugir da cruel realidade a que submetem seus eleitores, nossos políticos agiriam com mais compromisso ético (no mínimo). Ou então ficariam tão apavorados que deixariam de vez a vida pública! O único problema dessa nobre proposta é que dificilmente seria aprovada. Afinal, para ela valer é preciso o voto deles, políticos, que depois de eleitos parecem esquecer seu papel de representante de seus eleitores. E enquanto puderem ser tratados no Copa D'Or, indo de carro oficial , levando comitiva de assessores e seguranças a todo lugar, garantindo a melhor educação particular aos seus filhos, tudo continuará parecendo que vai muito bem mesmo. Cada vez melhor... mas, onde?
Um comentário:
Segundo o Ministério da Saúde, o Rio de Janeiro registra a segunda maior média do país, relativa aos postos de trabalho por grupo de mil habitantes. O Rio possui média de 4,1, atrás apenas do Distrito Federal. Cabral aumentou em mais de 50% o efetivo médico. Em janeiro de 2007 eram 6,6 mil profissionais e hoje já passam de 10 mil! Muito ainda precisa ser feito, mas estamos no caminho certo!
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