domingo, 15 de novembro de 2009

Estamos mais ricos? Talvez só nos falte a riqueza maior

Os tempos mudaram, as coisas já não são como antigamente. Diversos pontos pioraram, outros ficaram diferentes, e algumas coisas melhoraram. Somos um povo mais rico? Vejamos: Lembram-se das ruas sem asfalto? Dos esgotos correndo a céu aberto? Da falta de água encanada em casa? Da meia dúzia de pessoas que tinham carros no bairro? Das duas peças de roupas no guarda-roupa, uma para sair e outra para trabalhar? Dos “chinelinhos havaianas” azulzinhos, que usávamos até arrebentarem as correias? Quando isso acontecia, ainda colocávamos um preguinho embaixo para ele durar mais um pouquinho. Hoje esta marca é elitizada, no passado, era um produto muito consumido pelos mais pobres.

E os rapazes! Lembram do famoso “Kichute”? Do campinho de futebol à escola, do trabalho ao passeio na avenida, sempre com o nosso inseparável (talvez único) “Kichute”! E a TV que tinha a imagem em Preto e Branco e vinha acompanhada de aparelho de UHF e transformador? E ainda comprávamos uma tela protetora, com várias faixas coloridas, que instalávamos nas nossas TVs na esperança de enxergarmos as imagens coloridas (era horrível). TV em casa expressava ótima condição financeira, pois era um artigo de luxo.

Na escola, tudo muito difícil. Uniformes eram exigidos e os pais tinham que comprar. Somente a APM (Associação de Pais e Mestres) socorria os que estavam abaixo da linha normal da pobreza, como eu por exemplo. Lápis, borracha, caderno, bolsa, tudo isso precisava ser comprado, ou doado pela bondosa e dedicada APM, nossa salvação. E a alimentação? Frango e refrigerante somente no Domingo, lembra?! Durante a semana, comia-se o que tinha em casa (se é que tinha alguma coisa).

Mais recentemente as linhas telefônicas eram declaradas no Imposto de Renda de seus proprietários, tal era seu valor. E os celulares? Gigantes, ineficientes, sem nenhum benefício extra, e caros, muito caros. Somente alguns profissionais tinham condição de tê-los. Chamávamos de “tijolão”, devido ao seu tamanho. Interessante era a ginástica que exigia para se achar o sinal. Era um bom exercício de contorcionismo.

Hoje vivemos um tempo diferente nestas questões: muitos carros e motos nas ruas, linhas telefônicas e celulares com fácil acesso, roupas parecem não ser problema para a maior parte das pessoas, alimentação idem. Uma TV em cada quarto, aparelhos de som, de DVD, computadores etc. Todas as pessoas têm isso tudo? Na verdade não. Mas, é muito comum encontrar pessoas que vivem em situação de extrema pobreza com uma TV na sala, um aparelho celular no bolso, algumas dúzias de roupas para usar e alguma coisa para comer na geladeira. Na torneira água encanada e na rua da sua casa, asfalto.

Bem, se comparada à pobreza de 30 ou 40 anos atrás, podemos dizer que estamos sim, bem mais ricos hoje. Talvez nos falte a riqueza maior: o respeito. Respeito aos pais, aos mais velhos, ao próximo e à dignidade humana. Talvez tenhamos nos tornado ricos por fora e pobres por dentro, quem sabe.

Por: Prof. Adolfo Pereira

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