segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Sobre a revista Veja

O mais divertido nos petralhas é ver como adoram procurar chifre em cabeça de cavalo. A capa da VEJA desta semana traz a foto de um policial do Bope, um local, uma data e um título: “Rio de Janeiro, 25 de novembro de 2010 - O DIA EM QUE O BRASIL COMEÇOU A VENCER O CRIME“.

“Está vendo? Nem a VEJA concorda com o que você diz”. “Ih, foi desautorizado pela VEJA!” Pobres coitados! A revista sempre achou que o crime tinha de ser enfrentado, e os criminosos, presos. E saúda isso! Eu também! Felizmente, temos, sim, diferenças — ou meu blog seria desnecessário, mas não nesse caso.

Não deixem de ler, diga-se, a reportagem de Ronaldo Soares e Roberta de Abreu Lima, acompanhada de um notável trabalho de edição. Destaco um trecho que demonstra que se pode fazer jornalismo maiúsculo, saudando a determinação do Estado de restaurar a ordem no Rio, mas sem cair no oba-oba, na patriotada e… no ridículo! E, sobretudo, sem fugir aos fatos:

Ninguém de bom-senso discorda de que a iniciativa de libertar territórios controlados por criminosos seja um avanço e tanto. A experiência internacional mostra que eliminar a presença de traficantes armados, que impõem suas regras na base da coerção e da violência, é o primeiro movimento a ser feito no combate ao crime organizado. Nas colombianas Bogotá, Medellín e Cali, essa estratégia funcionou bem. As UPPs seguiram o modelo da Colômbia, mas guardam uma diferença em relação a ele. Nas cidades daquele país, os quartéis-generais dos chefões do tráfico foram tomados logo nas primeiras operações, a partir de 2002, e os criminosos acabaram presos. No Rio, as principais trincheiras dos facínoras ficaram intocadas, enquanto o estado empreendia a ocupação de favelas menores e periféricas no mercado de entorpecentes. Com isso, os chefões seguiram fazendo negócios - agora auxiliados pelos bandidos das favelas tomadas que se refugiaram em seus domínios. Para se ter uma idéia, só no ultimo ano, o número de criminosos alojados no Complexo do Alemão triplicou.

Essa cambada perdeu o território, mas contínua a comandar o tráfico em seus antigos domínios. O comércio passou a ser mais velado e, quem sabe, um pouco menos lucrativo. Carregamentos de entorpecentes, que antes desembarcavam nos morros em enormes lotes à luz do dia, passaram a ingressar nas favelas ocupadas por UPPs por um exército de formigas, que transporta a droga aos poucos. Afirmam a VEJA dois agentes do departamento de inteligência da polícia: “Sabemos que, em onze das treze favelas pacificadas, o comércio de drogas praticamente não foi afetado”. É uma razão para explicar a falta de resistência às investidas da polícia: as ações oficiais não haviam atingido um reduto verdadeiramente lucrativo para o tráfico. Nesse sentido, a tomada de Vila Cruzeiro, do Complexo do Alemão e, posteriormente, do Vidigal e da Rocinha dará uma visão mais realista acerca da eficiência das UPPs.

Nenhum comentário: